João Paulo Fonseca

João Paulo Fonseca

segunda-feira, 24 de março de 2014

Ser Português

Todos os ciclistas que fazem viagens tem um cuidado. Diminuir a tralha e como consequencia o peso.
A bagagem é toda pesada na balança da cozinha, no meu caso, antes de ir para os caminhos.
Menos peso, menos esforço fisico, menos cansaço.. mais prazer.

Ao contrário desta lógica, há dois objectos da minha bagagem que tem vindo a aumentar.
A concha de Santiago e a bandeira Portuguesa.

A concha da vieira, reflete o crescimento espiritual.

A bandeira tem uma história que cintila na memória.

Quando fiz a via Pudiense, desde Puy-en-Velay, ao fim do terceiro dia de viagem caí a descer, numa zona de pedras.

Nada de grave á primeira vista. Mas quando comecei a subir, as velocidades já não entravam.

Diagnóstico: desviador traseiro empenado. Tentei arranjar com as proprias mãos , mas sem exito.

Continuei viagem mas com muita dificuldade sobretudo nas subidas. Tinha de empurrar a bicicleta á mão. Estava na zona de Aubrac. Região montanhosa de sobe e desce constante.

Fiquei com a moral em baixo. Só tinha feito 300 Km, faltavam ainda mais de mil para chegar a Santiago e já tinha uma avaria. Porcurei oficinas de bicicletas nas aldeias, mas eram demasiado pequenas para ter oficinas e a bicicleta não era o meio de transporte ou lazer muito utilizado por aquelas bandas. Passei três dias nestas circunstancias.

Perto de Figeac numa interminavel subida em asfalto, feita mais uma vez a empurrar a bicicleta, pára uma carrinha caixa aberta ao meu lado. Hei?? O que faz um português por aqui????. Respondo eu: Estou a fazer o Caminho de Santiago, sou de Braga.......
Enquanto conto a minha história, o meu interlocutor, percorre-me com o olhar, de alto a baixo. Terá pensado concerteza. Ou é maluco ou é perigoso.

Então vai para Santiago? em Espanha? Mas é muito longe! Então o Caminho para Santiago de Compostela passa aqui? Hummm,.. por isso é que vejo muitas pessoas de mochila ás costas a passar ali á frente, onde estou a fazer uma obra. E está tudo a correr bem?? pergunta o português.

Respondi que sim...mas falei da avaria nas mudanças.

Isso resolve-se já!!! Faz um telefonema de imediato e dispara..."meta a bicicleta na carrinha".

Assim fiz. Levou-me a uma oficina de bicicletas na cidade, esperou que a reparação ficasse concluida e levou de novo ao local onde me encontrou. Ainda a uns bons kilometros.

Fiquei estonteado  de alegria com este acontecimento.

Despedimo-nos com emoção. Eu por ter sido salvo pelo Carlos Silveira e ele por ver partir um compatriota.

Por isso desta vez, levo uma bandeira grande.

 
 
Do tamanho da alma de ser Português.







1 comentário:

  1. Bonita estória vou tenta-lo seguir nesta viagem a Hamburgo,força sempre em frente é já ali

    ResponderEliminar